quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Pássaro Cativo


Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi …
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas …
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade …
Quero voar! voar! … “

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

Olavo Bilac

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Relato de uma santa-mariense que se tornou vegetariana na Austrália

Foi no inicio de outubro, deste ano, que resolvi virar vegetariana. Claro que a decisão não veio do nada. Eu estava no processo há um bom tempo: por mais que adorasse churrasco, minhas mais recentes experiências carnívoras (de uns quatro anos pra cá) traziam sempre questionamento e culpa: passei a analisar mais e mais o fato de que eu estava ingerindo um ser morto. Comecei a ficar com nojo do coração de galinha. Analisava o sangue misturado com o arroz e não conseguia parar de pensar no fato de que aquele sangue, antes, mantinha vivo um ser.

“Queria ser vegetariana!”, idealizava. Mas, meio segundo mais tarde, já me desiludia: eu nunca conseguiria parar de comer carne. Eu, que nunca fui fã de vegetais e saladas, me frustrava com meu plano inatingível. Mas deixava pra lá e seguia.

O tempo passava e, enquanto isso, me mantive ocupada com meu AMOR incondicional por cachorros e animais em geral. Nada num nível emocional demais, eu estava consciente do fato, ficava frustrada com as barbaridades mas ao fim do dia, seguia a minha vida normal.

Mudei para Sydney em 2006 e já de cara conheci as duas pessoas que seriam minhas melhores amigas: uma brasileira e uma australiana, ambas vegetarianas.
Aqui em Sydney todo o restaurante oferece pelo menos duas ou três opções vegetarianas no Menu, então o “ser vegetariano” aqui soa muito mais normal do que no RS. Comecei a me acostumar com a idéia mas nunca pensei muito no assunto, afinal eu estava ocupada com outras coisas.

Acredito que dois episódios foram os “turning points” da minha vida.
O primeiro, quando fui jantar com meu namorado em um restaurante elegante e pedi lamb shanks (pernil de ovelha). O prato chegou e fiquei paralisada diante daquele pedaço de carne em sua mais fiel forma: eu fiquei imaginando aquela perna em vida, por onde correu, o que fez... E aquele osso visível foi o suficiente para me impedir de comer.

Confesso fiquei um pouco surpresa com minha reação, mas por outro lado abri um pouco minha mente. Coincidentemente, na semana seguinte, resolvi pesquisar ONGS que cuidam de direitos animais, pois eu estava a fim de fazer algum trabalho voluntário. Visitei PETA, WWF, WSPA e outras ONGs do Brasil quanto fatalmente cheguei ao filme Earthlings. E este foi o meu segundo “turning point”. Assisti ao filme sozinha em casa e chorei tanto, mas tanto, que cheguei a vomitar. Choro de raiva e tristeza, me frustrei, amaldiçoei toda a raça humana, fiquei com vontade de sumir desse mundo, pedi perdão pra Deus, Allah, Buda, Matrix, o que fosse.... Fiquei com vergonha de ser humana e viver num mundo desses.

No dia seguinte, virei vegetariana. Sem estudar dietas alternativas, sem pensar em repor o que fosse, sem me preocupar com o que iria comer (lembrando sempre que eu não como muita salada) mas única e exclusivamente pelo fato se que eu não iria mais fazer parte daquilo.

As primeiras semanas foram HORRÍVEIS. Eu fiquei com muita raiva. Muita frustração. Fiquei amarga, achando que todo o ser humano era egoísta e imprestável, que o mundo era horrível. Chorava quase todos os dias e as cenas do filme não saíam da minha cabeça. Resolvi acreditar que todo mundo que come carne não prestava. Briguei com mãe, irmã, amigas, primos. Meu namorado sempre foi vegetariano, mas o fato de ele achar que eu estava sendo muito radical era motivo pra eu enquadrar ele no mesmo grupo dos humanos complacentes. E assim não vivi minha vida durante aquelas semanas. Eu estava em raiva constante. Amarga. Infeliz por ver que o mundo tava uma m*&^%$ e eu não iria conseguir mudar tudo sozinha.

As reações das pessoas, então, me deixavam ainda mais infeliz. Obviamente, eu mandei o filme pra todo mundo que eu conheço e respostas do tipo: “Ai, se tem sangue nem me mostra”, “Mas tu não vai mudar o mundo, não adianta parar de comer carne” ou ainda “é triste né? E aí, o que vai fazer no fim de semana?” só me fizeram ver o quão egoísta, fútil e insensível é o ser humano.

Me desiludi com cada pessoa que contatei ao ver a indiferença com que lidavam com o tema. Parece que a maioria das pessoas vê as questões globais (ambiente, animais...) como algo que não lhes cabe. Algo que é de responsabilidade de alguém que não eles. E aí tudo fez sentido na minha mente: por isso que esse mundo está assim.
Enfim, me vi isolada e incompreendida, buscando apoio dos filósofos e da Pamela Anderson (maior ativista do Peta).

Segui na fase de revolta e amargura por umas três semanas até ter um grande surto, quando chorei por umas duas horas e cortei relações com todos os amigos e parentes próximos. Meu namorado, então, falou comigo e deixou claro que eu iria viver eternamente isolada socialmente e que seria melhor eu continuar vivendo a minha vida, porque até então, desde o momento que eu decidi ter virado vegetariana eu não falava, não pensava e não fazia outra coisa.

Foi assim, após chegar ao fundo do poço psicológico que resolvi, sem nenhuma outra opção, “take it easy” e relaxar um pouco. Com muita sorte, logo após esses surtos e desgaste aos quais estive submetida, comecei a tomar conhecimento de mais e mais vegetarianos. No trabalho. Amigos de amigos. Anywhere!

Fiquei sabendo de vocês! Da minha amigona Thais que também virou, e de várias outras coisas que foram me deixando mais e mais otimista. Me afiliei em várias ONGS e agora to fazendo relações-públicas como voluntária pro PETA Asia-Pacific.

O não comer mais carne às vezes fica muito difícil. Eu trabalho num Shopping Centre em cuja praça de alimentação temos MC Donalds, Hungry Jacks, KFC, O Porto... carnificina. Nessas situações de pressão, onde não tenho opções e preciso comer, me permito comer sashimi (salmão) porque refleti e cheguei a conclusão de que se alguém tem que ser comido, pelo menos o peixe passou a vida nadando livremente e não confinado sofrendo. Obviamente isso é o meu período de transição apenas, que não durará mais de três meses. Como estou estabilizada psicologicamente, resolvi ir com calma e fazer a coisa devagar para que não haja riscos de desistir no meio do caminho. Mas isso certamente não aconteceria.

Acho que a mudança é um caminho sem volta e ser vegetariano, apenas, não me basta. Acho que devemos agir em ONGS (ou mesmo em organizações radicais como a ALF – que, aliás, eu AMO) e também não mais financiar a indústria de cosméticos, couro, lã e pele.

Todos esses temas me atormentaram durante essas semanas de IRA que citei. Agora estou estudando formas de fazer alguma coisa. Nunca mais comprei nenhum artigo de couro, lã ou pele (e jamais comprarei de novo) e tudo o que entra na minha casa é não testado em animais e biodegradável.

Muita gente não sabe do que acontece nesse tipo de indústria e obviamente cabe a nós acabar com isso. É ridículo e cada vez que vejo qualquer cena relacionada a isso, sinto todas aquelas coisas que citei anteriormente.

Sei que fui muito passional no início da minha transição. Atualmente, pelo bem da minha sanidade mental e vida em sociedade, estou mais calma, contente em fazer minha parte. Não vou negar, porém, que odeio (e jogaria uma bomba, se pudesse) a China, por toda a barbaridade que acontece com os animais (se vocês não sabem, por favor, pesquisem e vejam vocês mesmos) e que cada vez que vejo alguém se deliciando com um pedação de carne me vem em mente toda a sorte de insultos.

Mas vou trabalhando a minha paz. Fiquei MUITO feliz de saber da existência de vocês e confesso que isso colaborou muito na reestabilização da minha psique. Foi uma injeção de ânimo saber que tem gente em SM se ligando nas coisas.

(fiquei sabendo recentemente que a UFSM faz vivisecção e outros procedimentos em animais vivos!!!!!!!!!!!!!!! Mas isso é pauta pra uma outra hora.)

Enfim, gurizada.... Desejo a todos um ótimo fim de ano e que todos tenham ATITUDE, saúde e sorte em 2009!


Dri Roveda – recém vegetariana
Gold Coast, Australia

Campanha "Neste Natal Não Coma o Presépio"





Na véspera do Natal, a comunidade "Vegetarianos em Santa Maria" ofereceu informações para interessados no tema. Foram distribuídos DVDs e material informativo. E a sugestão dada à população foi a de que, pelo menos no Natal, não se consumisse carne, visto que é incoerente comemorar às custas do sofrimento e morte de seres inocentes. Vale registrar que fomos muito bem recebidos e que havia vários interessados que nos procuraram!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal época de compaixão


Observe o presépio: tem vaca, cabrito, cordeirinho -- todos observando o Menino Jesus. Os Evangelhos dizem até que, com seu hálito, os animais ajudaram a aquecer o recém-nascido.
Agora pense na maneira como os Reis Magos celebraram a chegada do Deus Menino. Seus presentes foram ouro, incenso e mirra. Em nenhum momento, os magos, José ou Maria sugeriram assar um peru ou um pernil para comemorar...


O Natal é o momento em que, no mundo inteiro, as pessoas que comungam da fé cristã se unem para relembrar o dia em que Jesus nasceu na humilde manjedoura de Belém. Infelizmente, o sentido essencial desta data, que deveria se prestar a uma reflexão coletiva sobre o modo como vivemos, perdeu-se por completo! Poderíamos aproveitar o Natal para incluir em nossas vidas pelo menos o principal mandamento de Jesus -- "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!". Mas, em vez disso, nos acotovelamos nos shoppings, nos estressamos no trânsito, estouramos os limites do cartão de crédito... O Natal deixou de ser a celebração da pureza e transformou-se no enaltecimento do consumo.


E nada está mais distante do mais puro e cristalino sentimento cristão do que os cardápios natalinos. As pessoas se esquecem de que os primeiros adoradores de Jesus foram justamente os animais, e aquiescem na matança desenfreada que ocorre nesta época do ano. Quintuplica-se o abate de perus e outras aves; porcos, cabritos e carneiros também são mortos em proporções absurdas. As pessoas desejam "paz" em suas mensagens natalinas, mas enchem suas mesas com os cadáveres de criaturas inocentes. Ignoram os imensos danos que a indústria da carne acarreta ao meio ambiente e permanecem surdas ao argumento de que a carne em suas mesas significa a fome de milhões de pessoas*. Ironicamente, pedem "saúde" no Novo Ano, enquanto se esbaldam em gordura animal. Aos poucos, esta entupirá suas veias e artérias, detonará seus fígado e afetará profundamente o equilíbrio de seus corpos e mentes.


Queremos convidar você a celebrar um Natal diferente. Um Natal de paz e compaixão, de amor e generosidade, extensivos a todos os seres. Um Natal vegetariano, que pode ser lindo e farto, como bem merece a celebração do aniversário do Rei dos Reis, porém isento de vítimas. Um Natal cheio de comidas vivas e cheirosas, suculentas e suaves, deliciosas e boas para o seu organismo. Seu corpo ficará mais leve... e sua consciência, mais leve ainda!!!

* 50% dos grãos produzidos no mundo destinam-se ao fabrico de ração para os animais de engorda. Se esses mesmos grãos fossem utilizados diretamente na alimentação humana, simplesmente não haveria fome no mundo!


Silvia Lakatos

Jornalista

Um Feliz Natal Vegetariano Para Todos !!

Marcelo Colomé

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Uma pergunta freqüente:e as plantas?

Uma das perguntas feitas com mais freqüência a um vegano é: “e as plantas?”.
Na realidade, eu não conheço nenhum vegano que não tenha ouvido essa pergunta ao menos uma vez, e a maioria de nós já a ouviu muitas vezes.
Claro que ninguém que faz tal pergunta realmente acha que não podemos distinguir entre, digamos, uma galinha e um maço de alface. Isto é, se no próximo jantar você cortar um maço de alface na frente dos seus convidados, eles terão uma reação diferente daquela que teriam se você fosse cortar uma galinha viva. Se, ao caminhar pelo seu jardim, eu pisar em uma flor de propósito, você poderá, com toda razão, ficar irritado comigo, mas, se eu chutasse de propósito seu cachorro, você ficaria irritado comigo de um modo diferente. Ninguém considera esses dois atos equivalentes. Todo mundo reconhece que há uma importante diferença entre a planta e o cachorro, diferença essa que torna o ato de chutar o cachorro mais grave, no plano moral, do que o ato de pisar em uma flor.
A diferença entre o animal e a planta envolve a senciência. Isto é, os animais não-humanos—ou pelo menos aqueles que costumamos explorar—sem dúvida são conscientes de suas percepções sensoriais. Os animais sencientes têm mentes; eles têm preferências, desejos ou vontades. Isso não quer dizer que as mentes dos animais sejam como as mentes dos humanos. Por exemplo, pode ser que as mentes dos humanos, que usam uma linguagem simbólica para se orientar pelo seu mundo, sejam bem diferentes das mentes dos morcegos, que usam a ecolocalização para se orientar no mundo deles. É difícil saber ao certo. Mas isso é irrelevante; o que importa é que tanto o humano quanto o morcego são sencientes. Ambos são aqueles tipos de seres que têm interesses; ambos têm preferências, desejos ou vontades. O humano e o morcego podem pensar diferentemente sobre tais interesses, mas não pode haver a menor dúvida de que ambos têm interesses, inclusive o interesse em evitar a dor e o sofrimento, e o interesse em continuar a viver.
As plantas são diferentes, no plano qualitativo, dos animais humanos e dos animais não-humanos sencientes, pois as plantas com certeza são seres vivos, mas não são sencientes. As plantas não têm interesses. Não há nada que a planta deseje, ou queira, ou prefira, porque não há nenhuma mente, ali, para se incumbir de tais atividades cognitivas. Quando dizemos que uma planta “precisa” de água ou “quer” água, não estamos afirmando nada sobre o estado mental da planta, assim como não estamos afirmando nada sobre o estado mental do motor de um carro quando dizemos que ele “precisa” de óleo ou “quer” óleo. Pode ser do meu interesse pôr óleo no meu carro. Mas não é do interesse do meu carro: meu carro não tem interesses.
Uma planta pode reagir à luz do sol e a outros estímulos, mas isso não significa que a planta seja senciente. Se eu fizer uma corrente elétrica passar por um fio ligado a uma campainha, a campainha toca. Mas isso não significa que a campainha seja senciente. As plantas não têm sistema nervoso, receptores benzodiazepínicos, nem qualquer outra característica que associamos à senciência. E tudo isso faz sentido em termos científicos. Por que as plantas desenvolveriam a capacidade de ser sencientes, se elas não podem fazer nada para reagir a um ato que as danifica? Se você encostar uma chama em uma planta, a planta não pode fugir; ela continua exatamente onde está e queima. Mas se você encostasse uma chama em um cachorro, o cachorro faria exatamente o que você faria—gritaria de dor e tentaria fugir da chama. A senciência é uma característica que evoluiu em certos seres para capacitá-los a sobreviver escapando de um estímulo nocivo. A senciência não seria de nenhuma utilidade para uma planta; as plantas não podem “escapar”.
Eu não estou querendo dizer que não podemos ter obrigações morais concernentes às plantas, mas sim que não podemos ter obrigações morais para com as plantas. Isto é, podemos ter a obrigação moral de não cortar uma árvore, mas essa não é uma obrigação moral que temos para com a árvore. A árvore não é o tipo de entidade para com o qual podemos ter obrigações morais. Podemos ter uma obrigação moral, isso sim, para com todas as criaturas sencientes que vivem na árvore ou dependem dela para sua sobrevivência. Podemos ter a obrigação moral para com os outros animais humanos e não-humanos que habitam o planeta de não derrubar árvores de modo irresponsável. Mas não podemos ter quaisquer obrigações morais para com a árvore; podemos ter obrigações morais apenas para com os seres sencientes, e a árvore não é senciente nem tem interesses. Não há nada que a árvore prefira, queira ou deseje. A árvore não é o tipo de entidade que se importa com o que fazemos a ela. O esquilo e os pássaros que vivem na árvore certamente têm interesse em que não cortemos a árvore, mas a árvore não. Pode ser errado, no plano moral, cortar uma árvore irresponsavelmente, mas esse é um ato qualitativamente diferente do ato de atirar em um veado, por exemplo.
Falar sobre os “direitos” das árvores, como algumas pessoas fazem, é um convite a equiparar árvores a animais não-humanos, e isso só pode funcionar em detrimento dos animais. De fato, é comum ouvirmos os ambientalistas falarem sobre nossa responsabilidade no gerenciamento dos nossos recursos naturais e incluírem os animais não-humanos entre os “recursos” a serem gerenciados. Isso é um problema para aqueles de nós que não vêem os animais não-humanos como “recursos” para nosso uso. As árvores e as outras plantas são recursos que podemos usar. Temos a obrigação de usar tais recursos com sabedoria, mas essa é uma obrigação que temos apenas para com outras pessoas, sejam elas humanas ou não-humanas.
Finalmente, uma variante da pergunta sobre as plantas é esta: “e o insetos—eles são sencientes?”.
Eu não tenho conhecimento de ninguém que de fato saiba a resposta a essa questão. Eu certamente concedo aos insetos o benefício da dúvida. Não mato insetos na minha casa e tento nunca pisar neles quando estou andando. No caso desses animais, talvez seja difícil traçar o limite, mas isso não quer dizer que um limite não possa ser traçado—e com clareza—na maioria das vezes. A cada ano, só nos EUA, matamos e comemos pelo menos dez bilhões de animais terrestres. Esse número não inclui os animais marinhos que também matamos e comemos. Talvez haja uma dúvida sobre os moluscos serem sencientes ou não, mas não há a menor dúvida de que todas as vacas, galinhas, porcos, perus, peixes, etc. são sencientes. Os animais não-humanos dos quais tiramos o leite e os ovos são, indubitavelmente, sencientes.
O fato de não sabermos, ao certo, se os insetos são sencientes não significa que temos alguma dúvida quanto à senciência destes outros animais não-humanos; não temos. E é claro que é um absurdo dizer que, já que não sabemos, ao certo, se os insetos são sencientes, então não podemos avaliar a moralidade de comer a carne dos não-humanos que, temos certeza, são sencientes, ou de usar os produtos provenientes desses não-humanos, ou de trazer esses não-humanos domesticados à existência para o propósito de usá-los como nossos “recursos”.

Autor: Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda


Públicado no site
http://pensataanimal.net/

Cristina C. Mallmann

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

OUTRO SER HUMANO É POSSÍVEL

Manifesto pela libertação dos animais
















Bilhões de seres vivos são confinados, torturados e sacrificados a cada ano por nossa espécie. Este massacre desumanizador pode ser perfeitamente evitado – desde que se deixe de rebaixar os animais ao status de propriedade

Redação do Le Monde diplomatique

Segundo o ministério norte-americano da Agricultura, só os Estados Unidos abatem mais de oito bilhões de animais por ano, para alimentação. A cada dia, mais de 22 milhões são sacrificados nos abatedouros dos EUA isto é: mais de 950 mil por hora, 16 mil por minuto! Apesar dos progressos efetuados nos últimos anos, continuam a ser mantidos em condições de criação intensiva apavorantes, mutilados de diversas maneiras, sem anestésicos, transportados por longas distâncias em compartimentos exíguos e insalubres, para serem finalmente executados aos gritos, no ambiente fétido e imundo de um abatedouro.

Os animais silvestres não estão em situação melhor. Nos Estados Unidos, cerca de 200 milhões são vítimas da caça, todos os anos. Milhões são também utilizados para a pesquisa biomédica e o teste de novos produtos. Medem-se neles o efeito de toxinas, de doenças raras, de moléculas experimentais, das radiações, dos tiros de armas de fogo e são submetidos a múltiplas formas de privações físicas ou psicológicas. Se sobrevivem aos experimentos, são quase sempre mortos logo em seguida ou reciclados para outras experiências, que dessa vez porão fim à sua resistência. Circos, zoológicos, desfiles, parques, espetáculos de golfinhos e outros utilizam os animais com o único fim de divertir. Mais de 40 milhões de bichos de pelo são abatidos, a cada ano, pela moda...

Antes do século 19, os animais eram considerados objetos. Mesmo para Descartes, um gemido de cão era semelhante ao rangido de um mecanismo que precisasse de óleo. [1] Falar de nossas obrigações morais para com os animais, “máquinas criadas por Deus”, não tinha, para o autor do Discurso do Método, mais sentido do que falar de nossas obrigações morais para com os relógios, máquinas criadas pelos homens.

O princípio humanista do tratamento médico dos bichos doentes e a aplicação de leis sobre o bem-estar animal que dele resulte supõe que aceitemos perguntar a nós mesmos se o sofrimento animal é indispensável. Se o fato de não utilizar os animais para nosso conforto causaria a nós mais prejuízo do que o sofrimento causa aos animais. Em geral, o interesse humano prevalece, e o sofrimento animal é considerado “um mal necessário”. Por exemplo, a lei britânica que regula a utilização de animais de laboratório exige, antes que um experimento comece, uma avaliação dos “possíveis efeitos nocivos sobre os animais envolvidos, em relação ao benefício que possa resultar do experimento” [2].

Para que uma proibição do sofrimento animal tenha algum alcance, é preciso que condene qualquer dor inflingida unicamente por prazer, diversão ou conveniência [3]. Usar um casaco de pele, impor às cobaias múltiplos testes para os produtos domésticos ou novas marcas de batom não tem relação com nenhum interesse vital para o ser humano. Comer carne é considerado nocivo à saúde pela maior parte dos nutricionistas. Aliás, especialistas em ecologia apontaram os danos que a criação intensiva causa ao nosso ambiente. Para cada quilograma de proteínas animais fornecidas, o animal deve consumir cerca de 6 quilogramas de proteínas vegetais e de forragem. Além disso, produzir um quilo de carne exige mais de 100 mil litros de água, enquanto a produção de um quilo de trigo não chega a exigir 900 litros...

Propriedade, base para a escravidão

A incoerência entre nossos atos e nossos pensamentos a respeito dos animais vem do seu estatuto de propriedade [4]. Segundo a lei, “os animais são propriedades, do mesmo modo que objetos inanimados como os carros ou os móveis” [5]. Os animais são considerados pertencentes ao patrimônio do Estado, que os põe à disposição do povo; mas eles podem tornar-se propriedade de indivíduos por meio da caça, do amestramento ou confinamento. O «sofrimento» dos proprietários, por não poder usufruir de sua “propriedade” a seu bel-prazer conta mais do que a dor do animal. A partir do momento em que se trata de interesses econômicos, não existe mais limite para a utilização ou para o tratamento abusivo dos bichos.

A criação intensiva, por exemplo, é autorizada porque se trata de uma exploração institucionalizada e aceita. Os industriais da carne avaliam que as práticas de mutilar animais, sejam quais forem a dor e o sofrimento suportados por eles, são normais e necessários. Os tribunais presumem que os proprietários não infligirão intencionalmente atos de crueldade inútil, que diminuiriam o valor monetário do animal [6]. As leis de bem-estar animal visam proteger os animais enquanto bens comerciáveis. Os avanços da indústria agro-alimentar em seu favor obedecem, em geral, a critérios de rendimento econômico, tendo os animais um valor mercantil [7], American Meat Institute Foundation, Washington DC, 2005.]].

Se queremos de fato fazer avançar o estatuto do animal em nossa sociedade, devemos aplicar o “princípio de igualdade de consideração” (regra segundo a qual devemos tratar de modo igual os casos semelhantes), uma noção essencial a qualquer teoria moral. Mesmo que exista um grande número de diferenças entre os humanos e os animais, pelo menos uma coisa fundamental nos aproxima: nossa capacidade de sofrer.

Se nosso desejo de não fazer os animais sofrerem inutilmente reveste-se de alguma significação, deveríamos então conceder-lhes a igualdade de consideração. O problema é que a aplicação desse princípio já fracassou no tempo da escravidão, que autorizava pessoas a exercer um direito de propriedade sobre seus semelhantes. A instituição da escravidão humana era estruturalmente idêntica à da possessão de um animal. O escravo era considerado um bem, seu proprietário podia não levar em conta seus interesses se isto não lhe fosse economicamente proveitoso.

Admitia-se, certamente, que o escravo podia experimentar sofrimento. Todavia, as leis para o respeito de seu bem-estar fracassaram pelas mesmas razões que as leis pelo respeito ao bem-estar animal fracassam em nossos dias: nenhum limite real é fixado para o nosso direito de propriedade. Os interesses dos escravos só eram preservados quando geravam lucro para os proprietários ou atendiam a seus caprichos.Atualmente, o interesse de um ser humano em não ser considerado propriedade é protegido como um direito. Ter o direito fundamental de não ser tratado como uma propriedade é uma condição mínima para existir como pessoa. Se quisermos modificar a condição dos animais, devemos estender a eles este direito que decidimos aplicar a todos os humanos, sejam quais forem suas particularidades. Isto não erradicaria todas as formas de sofrimento, mas significaria que os animais não poderiam mais ser utilizados como fonte de lucro. Por que julgamos aceitável caçar animais, aprisioná-los, exibi-los em circos e zoológicos, utilizá-los em experimentações e comê-los - em outras palavras, tratá-los como nunca ousaríamos tratar ser humano algum?

Libertar o animal, objetivo humanista
















A tese segundo a qual os seres humanos são dotados de características mentais completamente ausentes nos animais é contraditória com a teoria da evolução. Darwin afirmava que não existem características exclusivamente humanas: “A diferença de inteligência entre o humano e o animal mais evoluído é uma questão de grau e não de espécie.” Mesmo se não somos capazes de avaliar a natureza precisa da consciência animal, parece evidente que todo ser dotado de percepção é consciente e possui uma existência mental contínua. O professor Antonio Damasio, um neurologista que trabalha com pessoas atingidas por infartos cerebrais e graves danos ao cérebro, atesta que estes doentes possuem o que ele chama de «núcleo de consciência». Os humanos que sofrem de amnésia transitória, por exemplo, não têm noção alguma do passado ou do futuro, mas conservam uma consciência de seus corpos em relação aos objetos e aos acontecimentos presentes. Damasio afirma que numerosas espécies animais detêm esse mesmo núcleo de consciência [8]. O fato de eles não terem noção autobiográfica de suas vidas (pelo menos que seja do nosso conhecimento) não significa que não tenham uma existência mental contínua, ou que não experimentem interesse algum por viver, ou que o matador lhes seja indiferente. Os animais possuem uma inteligência considerável e são capazes de tratar uma informação de modo sofisticado. Como os humanos, comunicam-se com membros de sua própria espécie. Está provado, por exemplo, que os grandes macacos utilizam uma linguagem simbólica.

Talvez nenhum animal - exceto o ser humano - seja capaz de se reconhecer em um espelho, mas nenhum humano é capaz de voar ou de respirar debaixo d’água sem ajuda. Por que a capacidade de se reconhecer no espelho ou de utilizar a linguagem articulada seria superior, no sentido moral do termo, ao poder de voar ou de respirar debaixo d’água? A resposta, bem entendido, é que nós o proclamamos. Mas não existe razão alguma para concluir que as características pretensamente exclusivas do ser humano justifiquem o fato de que tratemos o animal como uma propriedade mercantil. Alguns seres humanos são privados destas características, e no entanto nós não os consideramos objetos. Por conseguinte, a questão central não é: os animais podem raciocinar? Ou: podem falar? Mas, precisamente: eles podem sofrer?

Se queremos que seus interesses sejam respeitados, temos que conceder-lhes apenas um direito: o de não serem mais equiparados a uma simples mercadoria [9].

Tradução: Elisabeth Almeida

betty_blues@hotmail.com

[1] René Descartes, Discours de la méthode, 5a parte (sobre o animal-máquina), (1643).
[2] Cf. Animals (Scientific Procedures) Act, Londres, 1986. Ver também, para a União Européia, a diretriz 86/609/CEE, de 24 de novembro de 1986, relativa à proteção dos animais utilizados para fins experimentais ou outros fins científicos.
[3] Ler entrevistas com Gary L. Francione: www.friendsofanimals.org/programs/animal-rights/interview-with-gary-francione-french.html e http://veganrevolution.free.fr/documents/itwfrancionefrancais.html
[4] A concepção ocidental moderna da propriedade, segundo a qual os recursos são bens específicos que pertencem ou são atribuídos a indivíduos particulares, com a exclusão de qualquer outro, tem sua origem na decisão de Deus de conceder aos humanos o poder de reinar sobre o mundo animal (Gênese, 1:26 e 1:28).
[5] Godfrey Sandys-Winsch, Animal Law, Shaw, Londres, 1978.
[6] No que se refere à proteção do animal de fazenda na Europa, em 30 de março de 2006 aconteceu em Bruxelas a primeira Conferência da União Européia sobre o Bem-estar Animal [Nota da Redação do LMD-França].
[7] Por exemplo, um conselheiro da rede de fast food Mc Donald’s disse: “Os animais em boa saúde, bem tratados, permitem à indústria da carne funcionar com eficácia, sem problemas e com um bom rendimento.” Ler Temple Grandin, [[Recommended animal handling guidelines for meat packers
[8] Ler Antonio Damasio, Ao encontro de Espinosa, Europa-América, Lisboa, 2003. Ler também resenha do livro, por Maurício Marques de Silva, na Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
[9] Este texto foi produzido pela redação do Le Monde diplomatique a partir da apresentação de Gary Francione no colóquio, “Teorias sobre os direitos dos animais e o bem-estar animal” realizado na Universidade de Valença (Espanha) de 15 a 19 de maio de 2006.

A reflexão sobre o excelente texto e tema, fica ao encargo do leitor.

Felipe Colomé

"Seja a mudança que você deseja ver no mundo"

Mahatma Gandhi

domingo, 16 de novembro de 2008

A TRISTE VIDA DAS GALINHAS POEDEIRAS


A indústria de produção intensiva de ovos envolve pro­ces­sos tão ou mais cruéis que a indústria alimentar da car­ne. As galinhas poedeiras vivem en­carceradas em gaiolas de arame, sem fundo, o que resulta, muitas vezes, em ferimentos nas patas. As gaiolas são de um tamanho tão reduzido que as galinhas não conseguem sequer rodar sobre si próprias ou bater as asas.

Chegam a viver até sete galinhas por gaiola amontoadas umas sobre as outras. Não lhes é permitido qualquer tipo de liberdade para desenvolverem comportamentos naturais, como es­gra­vatar o solo com o bico em busca de alimento ou empoeirarem-se para se refrescarem.

O ambiente de armazém super po­voado, causador de imenso stress, as faz desenvolver comportamentos es­te­reo­ti­pados que podem pôr em risco a sua eficácia enquanto poedeiras. Por isso, os criadores desenvolveram métodos que evitam com­portamentos indesejados por parte das aves: transformam o ambiente do armazém de modo a que as galinhas per­ma­neçam em semi-escuridão e cortam-lhes os bicos a sangue frio utilizando uma lâmina quente, sem qualquer tipo de anestesia.

Quando a produção de ovos cai, lhes é retirado o alimento e os períodos que passam em escuridão alargam-se por mais de um mês. O objetivo é criar um choque corporal no animal para alterar novamente o seu ciclo de produção de ovos, de maneira a obter uma taxa produtiva mais alta.

Naturalmente que para um produtor dono de uma destas fabricas é mais rentável negligenciar os cuidados àquelas que adoecem e deixá-las morrer do que investir em melhorias de condições.

As galinhas menos resistentes e incapazes de continuar a pôr ovos são encaminhadas diretamente para o matadouro e, por vezes, são lançadas vivas numa espécie de triturador. Os restos das galinhas trituradas vivas são por vezes utilizados para confeccionar os conhecidos "nuggets".

Todas as galinhas que conseguem so­breviver a esse período de tempo em que se encontram encarceradas, chegam aos matadouros com­pletamente esgotadas, mu­­tiladas e depenadas. As aves chegam ao abate já com várias fraturas ósseas, tendo ainda pela frente uma morte cruel e dolorosa na degoladora. Este instrumento de abate falha muitas vezes na sua função de carrasco rápido, deixando que muitas galinhas sangrem até ao último suspiro.

Assim, a vida destas galinhas poedeiras não é em nada mais fácil ou feliz que aquela dos frangos na indústria da carne. Os dois setores estão intimamente ligados, ca­racterizando-se pela naturalidade com que se encaram os animais como máquinas de fazer dinheiro; em qualquer uma destas indústrias, os interesses das aves são desrespeitados.

Texto publicado no site: www.centrovegetariano.org

Portanto, será que faz algum sentido deixar de comer frango e continuar consumindo ovos??
Se dentre os motivos que levam um sujeito a parar de comer carne estiver o respeito aos animais, então sem dúvida, este deve pensar também em eximir de seu cardápio todo e qualquer produto de origem animal.

= Jucieli =

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Meu novo amigo Umpi :)

Olá a todos!

Escrevo pra contar algo muito importante que me aconteceu hoje (12/11/08).

À tarde fui ao shopping Monet encontrar uns alunos para vermos a exposição do Salão Jovem Artista e, devido à uma mistura de incompetência e burocracia, não permitiram que visitássemos tal mostra... Como tinha tempo, resolvi voltar caminhando pra casa.
Meu caminho normal seria subir a Av. Fernando Ferrari, mas pensei que subir pela General Neto seria mais perto e poderia voltar passando pelo Parque Itaimbé, que eu tanto gosto.
Mal dobrei a esquina e vi uma cadelinha que lembrava muito a minha Pipa então parei pra fazer carinho nela e vi que, além de não ser uma moça e sim um moço, era um filhote magrelo, castigado pela sarna, carrapatos, bernes, pulgas e provavelmente vermes também... me partiu o coração! Pensei em chamar um veterinário, comprar remédio ou comida, mas eu não tinha nada de dinheiro naquele momento. Nada! Com muita pena, deixei o pobrezinho ali e segui o caminho de casa pensando na situação.
Quase uma quadra depois, me veio na cabeça: "Eu não tenho como fazer nada por ele aqui, mas posso levá-lo pra casa, dar comida, cuidá-lo e encontar um lugar pra ele". E logo em seguida: "Mas a mãe não vai gostar, talvez eu pegue sarna ou a Pipa. E depois? O que vou fazer com ele?"
Mas aí pensei que minha mãe não é nenhum monstro e não vai me obrigar a abandoná-lo denovo (e se tentasse, não conseguiria!), se alguém pegar sarna lá em casa é mais fácil de nos curarmos do que o pobrezinho sobreviver sozinho nessas condições. Pensando no que acho certo fazer, dei meia volta e uma grande felicidade me invadiu só de pensar no que estava prestes a fazer!
Perguntei a um casal da casa em frente, se o cachorro tinha dono ou alguém que cuidasse dele. Obviamente, estava abandonado! Peguei meu amigo no colo e aí sim tomei o rumo de casa com um sentimento sem nome de tão maravilhoso!
MInha irmã e eu levamos o Umpi no veterinário, compramos os remédios, demos comidinha, eu dei banho (não necessariamente nesta ordem)...

Enfim... logo ele estará saudável, lindo e mimoso (isso ele já é)! E eu estou buscando alguém que queira adotá-lo aqui em Santa Maria ou arredores. Nos comprometemos com o tratamento dele e as vacinas! Ele tem 3 meses, vai ser grandão, mas é extremamente dócil.

Esse meu relato tem dois objetivos: 1) Encontrar uma família pro Umpi e 2) Provocar uma reflexão em todos nós sobre como pensamos e como agimos, afinal, "pros animais não importa o que você pensa ou sente, pra eles importa o que você FAZ"!
Não estou "me achando" pelo que fiz, na verdade, estou leve e com a sensação de ter feito a coisa certa. Mas se eu posso fazer, VOCÊ TAMBÉM PODE! E não vai morrer por R$50,00 ou um pouco mais, nem por algumas horas de dedicação e uma roupa suja... mas um ser vivo abandonado (gente, cachorro, gato, passarinho, vaca, etc...) pode morrer sim ou sofrer muito!

Acima, a fotinho do Umpi hoje. Espero poder divulgar uma foto dele bem linda daqui a algumas semanas :D

Ele tá chorando, tadinho, vou lá cuidar dele! Boa semana e obrigada por ler até aqui!

Bárbara Degrandi Borges - barbara.tochtli@gmail.com

sábado, 8 de novembro de 2008

Vamos começar do começo

(artigo de Renata Octaviani publicado no site www.vista-se.com.br)

Primeiro artigo aqui no Vista-se. E confesso que não sei bem sobre o que vou escrever. Bem que eu tentei pedir uma ajuda ao webmaster, como sugestão de pauta, mas ele gentilmente me deu toda a liberdade do mundo pra escrever sobre o que eu quiser.

E aí temos uma boa idéia: o desconforto que a liberdade traz.

Acho que humanos não estão acostumados com essa idéia de liberdade. Desde que nascemos somos acostumados a outras pessoas decidirem coisas por nós. Desde a infância nossas mães definem a papinha que comemos, as fraldas que usamos, o colégio que freqüentamos. Nesse início não vejo muito problema, até porque crianças não têm muito discernimento pra decidir certas coisas (não fosse assim muitos teriam crescido com uma dieta a base de sorvete e batata frita).

O problema surge depois. Com toda essa bagagem, temos toda a liberdade para escolhermos um emprego, um companheiro, uma filiação política, mas temos tantos padrões impostos em nossas mentes que essa liberdade toda acaba viciada por um sistema repetitivo baseado em poucas escolhas – escolhas intimamente ligadas, mesmo não percebendo isso. Há uma influência fortíssima do meio indicando direções que nem sempre são as mais corretas, mas são as mais normais. E o senso de normalidade muitas vezes é um atraso de vida.

Mas, afinal, o que é liberdade? Dar a si mesmo as próprias regras é uma definição comum, mas eu não acredito que seja verdadeira. Escolhas e regras existem e a liberdade normalmente tem a ver com a escolha consciente em aderir ou não a elas, mais do que criar as próprias.

Talvez por isso seja tão chocante para a sociedade, ainda hoje em dia, quando alguém se torna vegetariano ou vegano. Afinal, isso é também uma escolha, mas é uma escolha bem pouco popular. Ou melhor, bem pouco conveniente. Afinal, quem está disposto a abrir mão do churrasco do fim de semana, do cachorro quente da esquina ou do “prazer gastronômico” proporcionado pelas carnes? E por “dó dos bichinhos”, então? E “dar trabalho” para os outros?

Muitas vezes eu me deparo com a afirmação de que existe falta de informação e por isso poucas pessoas aderem ao vegetarianismo. Só o Google retorna 560.000 resultados para a palavra “vegetarianismo”: isso é falta de informação? Estou falando de uma única fonte, de uma única palavra. Há muitas outras como livros, vídeos, troca de experiências. Essa informação pode estar fragmentada, mas ela existe; as pessoas podem se prender a mitos e esquecer de procurar a informação, mas a informação existe.

A segunda afirmação é bem mais realista e costuma vir em forma de uma reflexão rasa que encerra a discussão: “eu acho que você tem razão, mas eu não consigo viver sem carne” (ou ovos, ou leite, dependendo do estilo de alimentação), seguida de uma garfada no bife.

Estou dizendo que isso tem fundamento, a impossibilidade de viver sem algum alimento de origem animal? De maneira alguma! Pelo número de vezes que eu já ouvi essa frase nos meus cerca de 5 anos de vegetarianismo, eu diria mesmo que é um problema de inconsciente coletivo. Essa informação não está pautada em dados, mas em medo de mudança.

Se eu, vegetariana, estou ali na frente, não nasci vegetariana, não tenho nenhum gene especial para o vegetarianismo, tomei essa decisão e sobrevivi, será que o problema real, então, não está na liberdade de escolha pessoal?

É falta de educação recusar comida oferecida pelos outros: vegetarianos vivem fazendo isso, não porque gostem, mas porque seu sistema de valores prioriza outras questões. O animal já morreu mesmo e isso seria desperdício de comida: como se animais fossem realmente comida e não houvesse outra opção no mundo, da qual todas as outras pessoas também desfrutam. Não existiriam tantos bois, porcos e galinhas no mundo se não fosse a pecuária: eu quase me emociono com a bondade dos pecuaristas que forçam a procriação desses animais pra serem tratados como máquinas de produção. Seus amigos vão ridicularizar sua escolha. As coisas sempre foram assim. O churrasco e a pescaria com a família de final de semana podem se tornar um martírio e não diversão. E, finalmente, o bife com batatas fritas da sua mãe é seu prato preferido e você não pode viver sem ele… De novo essa conversa? Pois é, de novo essa conversa, porque tem tanta coisa envolvida em ser vegetariano que é mais fácil ir direto pra esse final, não pensar em mais nada e não ter que encarar todos os questionamentos.

“Eu gosto de carne” é uma saída subjetiva e fácil. De certa maneira, é uma forma de liberdade. Só que as pessoas não pensam sobre isso e esquecem que liberdade tem suas conseqüências e as conseqüências de comer carne podem até ser mais aceitas socialmente, mas não são nada convenientes também.

Somos taxados de radicais, extremistas ou simplesmente malucos. Especialmente se ao invés de comermos quietinhos nosso pratinho de “mato” (e eu não como “mato”) explicamos porque acabamos de recusar a carne oferecida. Esfregamos na cara de todo mundo, com toda a liberdade a que temos direito, que escolhemos fazer o que achamos certo e que, sim, achamos que os outros estão errados. Podemos até não verbalizar (o que pode ser algumas vezes bastante ofensivo e nossa intenção real não costuma ser ofender ninguém) e às vezes nem ter essa intenção, mas que é exatamente isso que fazemos todos os dias é (acreditem, já ouvi isso da boca de uma pessoa que come carne, após uma ceia de Natal). E poucas coisas são um maior exercício de liberdade do que isso – um exercício de liberdade que talvez te transforme num pequeno show de horrores que todo mundo quer ver, mas ninguém quer ser e dificilmente quer entender.

Ninguém quer escutar – e não apenas ouvir - nossos argumentos, mas facilmente viramos o centro da discussão (iniciada por outros, você só recusou a carne e falou a terrível palavra “vegetariano”).

Há alguns meses, em uma discussão online, eu acabei rabiscando algumas frases pra demonstrar minha indignação com a postura de algumas pessoas. São as seguintes:

“Viva a liberdade de expressão, desde que ela não me force a pensar.
Viva o livre pensamento, desde que ele não coloque contra a parede minhas idéias pré formadas.
Viva a consciência e solidariedade, desde que eu não tenha que mudar nada (ou quase nada) da vida que eu já conheço.
Viva a ação, desde que não mexa com meu comodismo.
Viva a verdade, desde que ela não vá contra meus interesses.”

Se você perguntar a qualquer pessoa se ela é favorável a essas idéias, pouquíssimas vão admitir. Mas é exatamente o que a maioria faz.

Filmes que mostram o abate são taxados de sensacionalistas, proteção animal é colocada como atividade de pessoas sem o que fazer ou – maldade sexista – de mulheres mal amadas, canis mantidos por ONGs ou voluntário são despejados porque incomodam os vizinhos, a festa vegetariana que você promoveu rendeu meia dúzia de comentários maldosos (embora você não tenha visto ninguém passando fome) e a verdade é distorcida e minimizada pra caber dentro da “verdade conveniente” de cada um e a consciência sobre algum assunto não leva à ação porque isso é “um exagero”.

Mas ao se expor uma idéia da qual é partidário, verbalmente, não existe coação. Ao se tomar uma decisão pessoal como o vegetarianismo também não existe coação. E, portanto nesse cenário existe toda a liberdade do mundo. Mas mesmo assim nós incomodamos.

O que me leva a um segundo problema: talvez a estranheza humana com a liberdade choque tanto quando falamos em libertação animal. Afinal, como é que podemos admitir que um animal que “sempre” dependeu do ser humano possa de repente ficar solto por aí? O boi no rodeio não é “tratado como um atleta” e tem mais atenção que muita gente? O elefante e o macaco no circo não ganha amendoins e tem a chance de ser uma estrela? E os filhotes vendidos em Pet Shops, não são “tratados como filhos”?

Invariavelmente vamos ouvir esse tipo de pensamento (que é parcial ou irreal), que levam em conta uma psicologia humana, interesses humanos e poucas vezes o problema animal. Mas se eu começar a falar sobre o problema em defender também a liberdade de não-humanos, eu não termino esse artigo.

Há tempos eu defendo que vegetarianismo, por qualquer motivação, é pautado em dois pilares: informação (que está disponível, basta procurar) e liberdade de escolha. E o começo de tudo é isso.

Começando do começo, por hoje fico por aqui.

Até a próxima!


Autora: Renata Octaviani

Artigo publicado no site www.vista-se.com.br

terça-feira, 21 de outubro de 2008

IBAMA pergunta sobre a caça amadora


Participe da enquete:

Você é contra ou a favor à caça amadora?

O Supremo Tribunal Federal – STF está julgando uma ação sobre a legalidade da caça amadora no país e solicitou ao Ibama um parecer. O único estado que tem a atividade regulamentada é o Rio Grande do Sul, mas a caça está proibida de ser realizada desde 2005. Atualmente, os únicos tipos de caça permitidos são a de controle e a científica, mas somente podem ser realizadas após estudos sobre sua necessidade e com o dimensionamento dos respectivos impactos para as espécies.

De um lado, os defensores da caça amadorista alegam que as áreas utilizadas para a atividade são uma alternativa de uso sustentado à expansão agrícola e que o dinheiro arrecadado pelas associações são utilizados, também, como apoio na proteção a áreas de planos de manejo e de unidades de conservação.
Aqueles que são contrários à caça amadora alegam que a prática é cruel, que há suspeita de poluição ambiental, pois há emissão irregular de chumbo na biosfera, que faltam estudos e que a atividade não tem uma finalidade social relevante que a legitime.

Neste contexto, o Ibama quer saber a sua opinião sobre a caça amadora. Você é contra ou a favor a manutenção da atividade no Brasil?

  • Sou contra a caça amadora (66%, 7.562 Votes)
  • Sou a favor da caça amadora (33%, 3.828 Votes)
  • Não tenho opinião definida (1%, 82 Votes)

Total de votos: 11.472 (22:26)

Fonte: www.ibama.gov.br


Vote contra a caça amadora clicando aqui! :}


Simplesmente não faz sentido legalizar esta prática tão cruel! Mesmo que os clubes de caça mantenham áreas de reserva ou façam qualquer coisa em defesa do meio-ambiente, é uma contradição muito grande.

E se mesmo com a caça proibida a prática continua, quem garante que com a legalização os caçadores matarão apenas as espécies permitidas?

A caça é uma atividade estúpida que deve ser combatida não só com leis, mas com conscientização, evitando sua prática ilegal.

Caçadores são seres covardes que precisam subjugar outras criaturas à sua vontade para se satisfazer. Por isso, postei a imagem acima que diz: "Caçadores não têm 'bolas'. Homens de verdade não matam".

Para quem quiser assistir ao "dia da caça", onde o caçador sentiu o que é estar na pele de um animal atacado: http://br.youtube.com/watch?v=-EdsW7KHc4I :D


Bárbara Degrandi Borges